Ética Riscos Cabo de Guerra

O Papel da Ética na Gestão de Riscos – O Dilema do Cabo de Guerra

Por Letícia Sugai Rocha, especialista em Compliance, sócia e fundadora da Veritaz

 

Ao analisar as duas últimas décadas da história mundial, deparamo-nos com uma série de acontecimentos relevantes ocorrendo quase que diariamente, repercutindo em novas ações, estratégias e comportamentos corporativos em busca de maior competitividade. Desde os atentados terroristas ao World Trade Center, passando pela vitória de políticos como Putin e Lula à frente de economias em desenvolvimento, a crise imobiliária norte-americana, a consolidação da internet como meio de comunicação e o surgimento de novas tecnologias, o mundo empresarial não se vê mais olhando para trás.

O acelerado desenvolvimento da economia coloca em pauta um dilema moral já bastante discutido nas organizações: de um lado, a ética, os princípios e valores da companhia; de outro, as possibilidades de ganhos astronômicos ao assumir riscos até então mitigados. De forma controversa e até paradoxal, o “dilema do cabo de guerra” entre a ética e os riscos corporativos assola qualquer empresa, tendo como elementos transversais o contexto (ou oportunidade), a pressão situacional e a racionalização – elementos do “triângulo da fraude”, de Donald R. Cressey.

Na história empresarial brasileira, inúmeras das organizações líderes em seus segmentos sempre tiveram de se sujeitar a condutas antiéticas (ou “non compliant”) para celebrar grandes negócios e fechar os resultados positivos de final de ano, satisfazendo expectativas de acionistas, consumidores e do mercado em geral. Nos bastidores desses resultados, esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, nepotismo e outros ilícitos. As consequências sociais, jurídicas e econômicas do século XXI em relação a tais situações têm, no entanto, reduzido – mas não eximido – ditas condutas.

Para crescer, diferenciar-se e desbravar novos mercados, é necessário ousar e inovar. A gestão de riscos tem como função prevenir e detectar os obstáculos que as empresas enfrentam no caminho para atingir seus objetivos, ou seja, analisar de forma holística os riscos do negócio a fim de saber como tratá-los caso venham a ocorrer. Atualmente, com novas tecnologias e empresas oferecendo produtos e serviços cada vez mais específicos, novos tipos de riscos têm a atenção das companhias. É possível afirmar, portanto, que eles variam de acordo com o contexto e com o negócio, assim como o apetite e o perfil de risco de cada gestor.

Em qualquer realidade organizacional, para aferir maiores resultados, os gestores podem se sujeitar a situações antiéticas e encurtar caminhos. O anteriormente citado “triângulo da fraude” evidencia os elementos necessários para essa situação tornar-se viável.

A ética, por definição, é o estudo das ideias morais filosoficamente justificadas. Refere-se a princípios universais entendidos de maneira geral como corretos, independentemente do local ou época. O compromisso ético funciona como delimitador (ou regulador) da atuação empresarial a fim de manter-se dentro dos princípios de um coletivo, e por ser continuamente transgredida é que nos valemos das sanções legais.

Se o principal motivo pelo qual as organizações ponderam seus atos estratégicos e refletem sobre as consequências dos riscos que assumirão são as punições às quais estão sujeitas, pode-se entender, metaforicamente, que de um lado do cabo de guerra está a ética, atuando como força de resistência. Do outro, os lucros derivados de posturas mais arrojadas, porém ilícitas. O dilema é real e constante.

É nítida a necessidade de maior esclarecimento nas empresas quanto às suas políticas de riscos e compliance; a existência de controles eficazes sobre processos complexos; incentivos compatíveis com os valores éticos defendidos pela alta gestão e suporte constante do compliance em situações dúbias para a empresa. Difundir e implementar uma cultura em que a integridade permeie toda e qualquer ação ainda é o maior desafio desse dilema.

 Referências

CRESSEY, D. R. Other People’s Money: A Study in the Social Psychology of Embezzlement. Montclair, N.J.: Patterson Smith, 1973.

SANTOS, R.; AMORIM, C.; DE HOYOS, A. Corrupção e Fraude: Princípios Éticos e Pressão Situacional nas Organizações. Disponível em: < https://revistas.pucsp.br/index.php/risus/article/view/4513/3085> Acesso em 01 de dezembro de 2017.

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